segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O tempo (ou Long Time Ago)


A memória é a mais poderosa das drogas. Pode viciar facilmente, é atrativa, traz o perigo intrínseco. E mesmo que doa, é inevitável.

Quatro anos longe do Gigante da Beira-Rio. O lugar da infância com meu pai, meu padrinho, meu primo, meu tio. O mesmo Gigantinho meio abandonado. O mesmo Portão 4, a mesma rampa da Superior. Mas mesmo que a memória nunca morra, os lugares e as coisas mudam.

Lembrar da primeira vez que ouviu Beatles é impossível. Pode ter sido numa versão abrasileirada pela Jovem Guarda. Pode ter sido numa trilha sonora de novela dos anos 80. Pode ter sido numa propaganda de televisão ou de rádio. Nem que seja acidentalmente, a maioria dos ocidentais já ouviu os piás da cidade do Echo and the Bunnymen. Mas o que dá para lembrar foi do primeiro disco da banda comprado. Revolver, capa em branco e preto. Abre com Taxman, passa por I’m Only Sleeping, ri com Doctor Robert, chora com For no One, berra em Got to Get You Into My Life, termina no passo a frente de Tomorrow Never Knows.

Foi como torcer pro Inter. Depois da primeira vez, seria pra vida inteira.



Pois no dia sete de novembro de dois mil e dez, duas paixões definitivas estavam ali, juntas. No mesmo ano em que o estádio era construído, a banda encerrava um disco com a música The End. Quatro décadas depois, a modernizada casa vermelha ouvia a mesma canção, tocada por um dos guris de Liverpool.

Dizer que o velho e o novo estavam misturados na noite fantástica do dia abafado de Porto Alegre é ser no mínimo sucinto. Vejamos: Paul McCartney, 68 anos, tocava e cantava (de maneira perfeita) músicas compostas há quase meio século atrás, com alguns instrumentos da época, mostrado em telões de última geração, de sei lá quantos metros e com imagem de alta definição. Seu público variava dos 5 aos 85 anos de idade. Seu fôlego, alegria e vontade eram de um pré-adolescente que conseguiu “just to dance with you / oooohhh”. Crianças cantavam e dançavam como adultos. Adultos choravam e se abraçavam como crianças.



E eu sentado na arquibancada do Gigante. Ou melhor, em cadeiras plásticas, vermelhas e brancas, postas logo acima do cimento. O relógio na superior agora é telão.

O tempo muda tudo. Moderniza, adapta, transforma. Mas as memórias seguem entorpecendo a mente. E na memória, canções e clubes de futebol serão sempre eternos.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

26/11 ||| Imortal Tricolor

Segura essa, Beltrami!

Os co-irmãos teimam em desmerecer nossa Batalha dos Aflitos, aquele dia que o Grêmio fez valer sua alcunha de Imortal e se colocou na história por ganhar um campeonato com apenas sete jogadores em campo no jogo final.

Ganhar a Série B nunca foi mérito algum para um time do tamanho do Grêmio. Como não foi para Palmeiras, Corinthians e Atlético-MG. Era obrigação.

Mas ninguém pode negar o feito épico de o Tricolor ter vencido aquele jogo com SETE em campo. Ninguém.

Nenhuma alma em sã consciência deveria desmerecer aquilo. Pênalti contra, quatro a menos, 10 minutos de jogo apenas. Era impossível ganhar, convenhamos.

Mas o Grêmio, o Imortal Grêmio, fez valer a camisa, deu peitaço no árbitro, invadiu o campo, ameaçou acabar com tudo, catimbou como poucos argentinos poderiam catimbar. Armou um tendeu jamais visto numa partida de futebol. E fez um resultado inacreditável, escreveu uma história única. E outra, o Grêmio daquele ano era um time medíocre tecnicamente. Tinha só Ânderson e Lucas que se salvavam, mas tinha alma espartana.

Por isso, acontecesse o que aconteceu numa pelada de casado contra solteiros, mereceria DVD, livro, disco da trilha sonora.

Hoje faz cinco anos. 26 de novembro. Data histórica. Épica. Inacreditável. O dia da raça gremista. O dia da imortalidade. Dia eterno.

Lembro que pouco pude ver daquela partida. Tio Gelson, gremista também, teve que fazer a festa de aniversário da minha prima de 7 anos naquele sábado. Coitadinha da criança, não sabia que as atenções de sua festa ficariam em segundo plano.

Eu e meu outro tio, o Edinho, levamos uma TV pra festa. Armamos ela do lado de fora da casa, no estacionamento, e pra lá volta e meia nos dirigíamos para ver como estava o jogo. Imagina a agonia.

Festinha rolando, daqui a pouco vem alguém e diz que o Náutico acabara de perder um pênalti. Era o primeiro, ainda na etapa inicial.

Mais tarde vem todo mundo para dizer:

- Pênalti pro Náutico e Patrício (ou o Domingos, não lembro) foi expulso.

Não acreditei. O Escalona já tinha sido expulso! E pênalti pra eles, de novo! Estávamos na merda.

Comecei a pensar em tudo que eu teria que agüentar. Mais um ano de segundona, de gozações, de campos ruins, times ruins, jogos nas terças e sextas. Enquanto isso Djalma Beltrami ia expulsando a rodo os jogadores do Grêmio. Não, não, não. Não merecia tal desgosto.

Todo aquele furdunço em campo e eu não quis ver mais nada. Saí de perto da TV. Fiquei esperando o pior.

Até vir todo mundo outra vez, gritando e pulando, e comemorando.

- O Galatto pegou! O Galatto pegou!

E segundos depois veio mais meio mundo:

- O Grêmio fez um gol! O Grêmio fez um gol! Ânderson! Milagre! Milagre!

Sandro. Espartano. Pelejador!


Estátua pra ele

Um cometa! Um fórmula 1!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Sobre ídolos e decepções

O Campeonato Brasileiro de Futebol é podre. Em diversos aspectos. Arbitragem, dirigentes, entidade organizadora, monopólio de transmissão, preço dos ingressos, segurança, entrega de jogos, punições disciplinares, etc.

Quem escreve isso é um torcedor do Sport Club Internacional, três vezes campeão desta competição, uma de forma invicta. E “na fila” pela taça nacional há 31 anos. Então tá explicado. “Só reclama porque não ganha, se fosse campeão diria que era o melhor campeonato do mundo”.

Pior que não.

Não conseguiria, por exemplo, achar legal ver meu time entregar um jogo para prejudicar o maior rival. Ou torcer contra o meu próprio time. Não comemoraria da mesma maneira um título claramente manchado pelo tapetão. Não acharia normal (ou pior, adoraria) que uma série de eventos fosse acobertada pela mídia em benefício de alguns clubes.

Já tive ídolos no futebol. Ídolos colorados, ídolos da Seleção Brasileira, ídolos de outros países. Mesmo sabendo parcialmente de como funcionava a maquinária futebolística (na infância o contexto escapa facilmente), aqueles caras vestindo uniformes pareciam flutuar acima de qualquer pequeneza mundana. Organizações, corporações, patrocinadores, empresas de material esportivo, doping, mulheres, carros, transações, direitos federativos... isso deveria ser nada comparado ao fato de que aqueles homens foram escolhidos para praticar o esporte que nós amamos. Amamos odiar muitas vezes, mais ainda assim amamos. Ou amávamos.

Hoje enxergo camisetas e escudos. Não há rostos ou pessoas. Apenas uniformes históricos de clubes gigantescos, com seus ídolos e torcedores do passado, que insistem em resistir. E mesmo nas arquibancadas não há muitos destes torcedores. Para cada 20 mil brancos de classe média com seus filhos, esposas e carros de classe média, há 10 torcedores de futebol. Para cada 2 mil pré e pós adolescentes drogados (e brancos) nas torcidas organizadas, há 5 torcedores idosos, meio embriagados e nos setores mais baratos dos estádios. Que nem existem mais.

Meu afilhado está prestes a completar o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro 2010. Tenho vontade de ensinar para ele quem foram Andy Hug, Rickson Gracie, Don Frye, Fedor Emelianenko, ao invés de Pelé, Beckenbauer, Garrincha, Maradona, Cruyff... Acho que ele teria menos decepções quando adulto.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Vídeos das torcidas

Lembram dos vídeos que postei outro dia, do site www.brasileiraopetrobras.com.br?
Pois é, agora saíram os da Dupla Gre-Nal.
Aproveitem e dêem suas opiniões:



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A estrofe que não está no hino do Grêmio

Para honrar nossa bandeira
E o Grêmio sair campeão
Poremos nossa chuteira
Acima do coração

Certa feita estava assistindo ao Loucos por Futebol, da ESPN Brasil, e o jornalista e historiador Celso Unzelte cantou o hino do Grêmio.

Nada de novo, já que ele sempre canta o hino de algum time em cada edição do programa. Interessante é que, após cantar o hino tricolor, Celso pegou um livro que estava ao seu lado e começou a explicar que a frase lá de cima fazia parte da composição original, de Lupicínio Rodrigues, mas que, na hora de gravar foi deixada de lado.

O livro em questão era uma compilação de anotações de Lupicínio que agora não lembro o nome. Lá estava a grafia original do hino de seu time do coração.

Era mais ou menos assim:

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

50 anos de glória
Tens imortal tricolor
Os feitos da tua história
Canta o Rio Grande com amor

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Nós como bons torcedores
Sem hesitarmos sequer
Aplaudiremos o Grêmio
Aonde o Grêmio estiver

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Lara o craque imortal
Soube seu nome elevar
Hoje com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Para honrar nossa bandeira
E o Grêmio sair campeão
Poremos nossa chuteira
Acima do coração

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mãe Dinahismo

LDU, a guardiã do G4

Aposto uma caixa de percevejo que o Botafogo será campeão brasileiro neste ano. Isso porque tem a tabela mais tetinha até a penúltima rodada (na última pega o Grêmio) e porque ninguém acredita que eles possam ser campeões, como não acreditavam no Flamengo de Andrade no ano passado.


Posto isso, parece que entreguei os pontos quanto a classificação do Grêmio para a Libertadores 2011. Não, não é bem assim. Aposto uma Quilmes que o Imortal fará valer sua alcunha e vá gatiar a quarta vaga. Ela existirá, porque a Liga Deportiva Universitaria de Quito (aquela da foto ali de riba) guardará a Copa Sul-Americana em seu armário, juntando às outras quatro taças continentais que lá estão – são duas Recopas, uma Libertadores e a Sula do ano passado. Ou seja, los liguistas serão bi e los brasileños morrerão na praia, tal qual 2009, quando o Fluzão era o Brasil na Sul-Americana.

É quase tudo impossível o que estou escrevendo. Mas se até o Guiñazu começou a chutar, por que eu não poço?

Fato é que para o Grêmio ficar em quarto no Br’10 precisa ganhar todos os jogos daqui pra diante, e parar com esse diz-que-me-disse das entranhas diretivas. Em 2008, líder do Brasileirão, a eleição e toda movimentação política atrapalhou o desempenho do time. Agora, Renato já alertou que a coisa começa a se repetir.

- Não podemos perder para nós mesmo – balbuciou, e causou furor na cartolagem.

Renovação de contratos, lista de dispensas, aumento de salário, tudo sendo discutido em meio ao campeonato, mexe com a cabeça de cada jogador, não há dúvida. Os novos dirigentes, se pensassem um pouco, diminuiriam a carga, deixando esse assunto para depois. Até porque, qualquer negociação vai depender da participação na Libertadores ou não.

E já que foi eleito remoçado quadro de conselheiros, que mudem a data destas eleições presidenciais, para que o problema não torne em 2012. #ficaadica

Entretanto, se minhas previsões estiverem furadas, nos sentiremos frustrados. Sei que o Grêmio do primeiro semestre teria caído – só saiu da zona da degola no dia 1º de setembro –, mas contentar-se com pouco nunca esteve no DNA gremista. Sempre queremos mais, e sempre desejamos o topo. Até por isso já fomos chacotas dos co-irmãos por comemorar uma vaga de Libertadores. Não cometamos o mesmo erro. Libertadores, para o Grêmio, tem que ser sinônimo de rotina, não de acaso.